quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Ele mandou guardar a salada eu disse tá, só vou escrever um troço e aí vai:

essa palavra qual grudou em você,
essa palavra ela não é menos que minha e mais do que céu
ela é uma palavra de cola, colágeno, fibra.
ela é um elástico, ela está grudada em você.

essa palavra que pula no carnaval
essa palavra que canta quando pula.
essa palavra que Leminski ensinou a pensar andando
"mais um passo e minhas pernas já estão pensando"
de tanto ler esse poema
a palavra lhe grudou
o que lhe quero é a palavra

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

nessa avenida

Que sede!
mas que sede é essa de tanto carnaval,
só pelo medo de morrer na quarta-feira,
e não mais dançar.
como se não houvesse amanhã depois de amanhã
como se não houvesse dia sem sair sem comer, sem sair e dançar, sem ter hora pra voltar.
quero ver o carnaval.
Que sede!
virou sangue que me percorre, virou ar imprescindível à felicidade.
vai passar,
já passou...
já passou meu carnaval, e quero que o bloco volte antes que acabe de acabar.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

A água

água. muita água
olho pro chão e vejo essa água toda imunda.
me acho nascente, é de mim que escorre essa água.
que água é essa?
que água é essa?
água que pré-sente o sol, o amor
quanta água!
me esbaldo de tanto mijar essa água
rindo de desespero, rindo da desidratação
a água nunca pára de sair e minhas roupas estão todas encharcadas.
É água que desce ladeiras, desbarrancando a construção.
atropela os homens que não têm pronde ir.
atropela e afoga.
A água tá desesperada, vou me afogar também

domingo, 15 de fevereiro de 2009

crise de valores

dentro de cada barco há um tanto de mar.
no meu barquinho furado, pelo furo o mar se foi.
e se de mar estou vazia
hei de beber desta saliva salgada
para que assim não haja furo suficiente
que preencha esse mar de tanto ar dentro de mim.
eu beijo o mar
e estou acostumada com sua salgada saliva
só não me acostumo com a água fugir de mim
sem explicações.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

já que nada vive dentro

Era tudo mentira. só posso viver dentro desse corpo que me cabe, dentro desse corpo que me deram. cansei de procurar; migro de corpo a corpo e nunca me acho. então derreto e desisto de me refazer. e por isso falo tanto. porque nada disso há de estar em mim. porque dentro de mim nada existe.