terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Trecho de Macunaíma de Mário de Andrade

"e a cabeça não pôde entrar. Macunaíma não sabia que a cabeça ficara escrava dele e não vinha para fazer mal não. A cabeça esperou muito porém vendo que não abriam mesmo matutou no que ia ser. Si fosse ser água os outros bebiam, si fosse mosquito flitavam, si fosse trem de ferro descarrilava, si fosse rio punham no mapa... Resolveu: "Vou ser Lua". Gritou:

- Abram a porta, gente, que quero umas coisas!
(...)

A iandu principiou fazendo fio no chão. Com o primeiro ventinho que brisou por ali o fio leviano se ergueu no céu. Então a aranha tatamanha subiu por ele e da ponta lá em riba derramou um bocado de geada. E enquanto a iandu caranguejeira fazia mais fio de lá pra riba, o de baixo branqueava todo. A cabeça gritou:

- Adeus, meu povo, que eu vou pro céu!
E lá foi comendo fio sobessubindo pro campo vasto do céu. Os manos abriram a porta e espiaram. Capei sempre subindo,

- Você vai mesmo pro céu, cabeça?
- Uum, ela fez não podendo mais abrir a boca.

Quando foi ali pela hora antes da madrugada a boiúna Capei chegou no céu. Estava gorducha de tanto frio comido e muito pálida do esforço. Todo o suor dela caía sobre a Terra em gotinhas de orvalho novo. Por causa do fio geado é que Capei é tão fria. Dantes Capei foi a boiúna mas agora é a cabeça da Lua lá no campo vasto do céu. Desde essa feita as caranguejeiras preferem fazer fio de noite."

domingo, 20 de janeiro de 2008

Casei-me

Casei-me com ela. Fizemos das árvores caídas, nosso buquê e coroa de folhas; do vento, o véu; do céu, a capela; do chão úmido quase mar, nosso tapete vermelho. Casei-me com a chuva. E de novo ela veio quente, para me abraçar. Sem padre, sem nada, pois somos por nós mesmas, o amor. E quando ela se chove, tira-me a saudade. Pois somos o amor.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Como se me abraçasse, ela veio. Cada pingo era um calafrio. Pingos quentes, como se o fizesse justamente para calar meu frio. Meu, transformado em algo de sua posse para destruí-lo. Toma, leva, cura, livra. Essa dor de dentro, esse vazio daqui. Cale-os.
Chuva.


(se eu jurar que calafrio + calar meu frio saiu despropositalmente, alguém acredita?)

domingo, 13 de janeiro de 2008

tinta cadáver

Então o pacto se salva pelas água de uma terra trêmula.
e Naquela Madrugada de selo-amor, as constelações foram enxergadas.
Pleno sentido. Sentindo plenamente bem tudo.
E quando há deus, há sofrer, há morrer de dor,
há também amor.
Tenho vontade de dizer tudo escuro. Pra só eu entender minhas palavras.
Mas preciso dizer, mesmo que não entendam.
Porque escrever é isso pra mim, eu tola nessa coisa. Nem sei escrever direito.
Mas sabe o que importa? É justamente o meu entendimento pela minha coisa escrita.
Que escrever esclarece para mim, mesmo que escureça para ti, e mesmo que pareça feio,
sem rima ou rítmo, quero sem melodia. Porque são pensamentos caindo da cachoeira de idéias, de tinta no papel (ou nos tempos modernos, essas letras aí sem alma que aparecem numa tela

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

VIVER. Eu queria saber escrever, porque voltimeia fico com sentimento preso na garganta, ali um pouco mais pra baixo, no esôfago, ali no lugar que a gente sente o vazio também. Sei lá, queria saber escrever porque eu acho que viver é muito bom, e também acho muito legal dizer pras pessoas que está feliz e como isso tá se desenvolvendo dentro do meu corpo. Eu adoro ouvir/ler que as pessoas estão felizes, principalmente se ela disser como é que tá sendo, saca? Fico feliz também, nem preciso ser amiga da pessoa não, falo sério. Mas é que saber escrever é tão legal, porque aí essa pessoa (a que sabe escrever) começa a descrever as paradas, - gostomuito dos que falam como tão sentindo as coisas - aí a gente vê que não é só a gente, e isso dá mó conforto, essa mania do homem de compartilhar...

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

aiaiaiaiaiai... rosa branca...