sexta-feira, 11 de abril de 2008

Maíra

Me apaixonei por mim mesma. Esqueço que não sei nada sobre mim e me invento a partir das imagens que me tenho, a partir da pequena quantidade de informações, como um detetive. Me apaixonei e não penso em outra coisa a não ser em mim, no que eu deveria ser na realidade. Acho que não me sou e nem sou mim. Sou eu, e me apaixonei por outra que me mora dentro. Outra que eu tento fingir não amar e não ser. Ela tenta ser eu, gosta do que eu gosto, tem meu nome, mas se parece mais avançada e mais velha, madura, concreta. Enquanto eu me sinto abstrata.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Momentos de espera do meu Eu pensante (leia sem menor entonação)

Solto pequenos trechos como se fossem complementares para boas histórias.
Nesta minha espera, não estou ansiosa, não olho o relogio de milésimos em milésimos de segundo;
nem estou ofegante com minhas palavras: as pontuo ( com ponto final) bastante.
Também não observo as pessoas, suas caras, suas roupas, tãopouco imagino suas vidas, como o de costume. Apenas observo, como se flutuante, os objetos. Estes que são maiores que eu. Sou muito menor do que esses objetos monumentais, como a Escola de Cinema Darcy Ribeiro e como os ônibus. Ônibus, carros, ônibus, carros. Buzinas. Um ônibus freia de repente e logo passa um carro vermelho.
(Mais uma história, um trecho complementar:) passa um motociclista com um buquê de flores, desviando dos ônibus e carros nesta chuvosa espera. Logo, imagino a cena descrita em um romance, o qual não tenho idéia do começo, do meio e nem do fim, e somente o complemento com este trecho que o autor escreve: um acidente trágico o deixa caído, morto, e misturadas com seu vermelho sangue, as rosas. Poéticas e crônicas histórias eu solto soltas de qualquer contexto.
Continuo a observar, e penso que seria normal vocês, leitores (até os imaginários), não terem idéia destes meus pensamentos, mas como tudo o que penso está automaticamente sendo datilografado para meu computador, é inevitável que possam ter conhecimento.
O taxi continua parado no mesmo lugar. Ah, agora me lembro que não havia mencionado o taxi que está, desde o início de minha espera desanciosa, parado a minha frente. Ele está atrapalhando o trânsito.
Pela primeira vez, um homem no ônibus não tem meu olhar desviado. Fito seus olhos, sem nenhuma atração. Simplismente o faço, como simplismente flutuo observadora.
Ao mesmo tempo que percebo que o taxi que está à espera de algo não é de companhia, os atores da peça que acabo de ver, mais a atriz 'global' pela qual uma conhecida minha é apaixonada, passam pela porta do CCBB, e páram ao meu lado. Conversam, e logo entram no taxi. Ao mesmo tempo, passam ônibus, e dentro deles estão pessoas que, como hipnotizadas, olham sua atriz de cabelo recém-cortado. Algumas ainda chamam suas amigas ao lado para vê-la
Não penso mais. Flutuo apenas. Sem a mínima vontade. Não quero ir, não quero ficar; portanto quero os dois.






Agora, o fim da minha espera: chega um fusca cor de pingado, que buzina, então entro no carro, e se segue uma conversa rotineira com minha mãe sobre nada.