Solto pequenos trechos como se fossem complementares para boas histórias.
Nesta minha espera, não estou ansiosa, não olho o relogio de milésimos em milésimos de segundo;
nem estou ofegante com minhas palavras: as pontuo ( com ponto final) bastante.
Também não observo as pessoas, suas caras, suas roupas, tãopouco imagino suas vidas, como o de costume. Apenas observo, como se flutuante, os objetos. Estes que são maiores que eu. Sou muito menor do que esses objetos monumentais, como a Escola de Cinema Darcy Ribeiro e como os ônibus. Ônibus, carros, ônibus, carros. Buzinas. Um ônibus freia de repente e logo passa um carro vermelho.
(Mais uma história, um trecho complementar:) passa um motociclista com um buquê de flores, desviando dos ônibus e carros nesta chuvosa espera. Logo, imagino a cena descrita em um romance, o qual não tenho idéia do começo, do meio e nem do fim, e somente o complemento com este trecho que o autor escreve: um acidente trágico o deixa caído, morto, e misturadas com seu vermelho sangue, as rosas. Poéticas e crônicas histórias eu solto soltas de qualquer contexto.
Continuo a observar, e penso que seria normal vocês, leitores (até os imaginários), não terem idéia destes meus pensamentos, mas como tudo o que penso está automaticamente sendo datilografado para meu computador, é inevitável que possam ter conhecimento.
O taxi continua parado no mesmo lugar. Ah, agora me lembro que não havia mencionado o taxi que está, desde o início de minha espera desanciosa, parado a minha frente. Ele está atrapalhando o trânsito.
Pela primeira vez, um homem no ônibus não tem meu olhar desviado. Fito seus olhos, sem nenhuma atração. Simplismente o faço, como simplismente flutuo observadora.
Ao mesmo tempo que percebo que o taxi que está à espera de algo não é de companhia, os atores da peça que acabo de ver, mais a atriz 'global' pela qual uma conhecida minha é apaixonada, passam pela porta do CCBB, e páram ao meu lado. Conversam, e logo entram no taxi. Ao mesmo tempo, passam ônibus, e dentro deles estão pessoas que, como hipnotizadas, olham sua atriz de cabelo recém-cortado. Algumas ainda chamam suas amigas ao lado para vê-la
Não penso mais. Flutuo apenas. Sem a mínima vontade. Não quero ir, não quero ficar; portanto quero os dois.
Agora, o fim da minha espera: chega um fusca cor de pingado, que buzina, então entro no carro, e se segue uma conversa rotineira com minha mãe sobre nada.
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