"e a cabeça não pôde entrar. Macunaíma não sabia que a cabeça ficara escrava dele e não vinha para fazer mal não. A cabeça esperou muito porém vendo que não abriam mesmo matutou no que ia ser. Si fosse ser água os outros bebiam, si fosse mosquito flitavam, si fosse trem de ferro descarrilava, si fosse rio punham no mapa... Resolveu: "Vou ser Lua". Gritou:
- Abram a porta, gente, que quero umas coisas!
(...)
A iandu principiou fazendo fio no chão. Com o primeiro ventinho que brisou por ali o fio leviano se ergueu no céu. Então a aranha tatamanha subiu por ele e da ponta lá em riba derramou um bocado de geada. E enquanto a iandu caranguejeira fazia mais fio de lá pra riba, o de baixo branqueava todo. A cabeça gritou:
- Adeus, meu povo, que eu vou pro céu!
E lá foi comendo fio sobessubindo pro campo vasto do céu. Os manos abriram a porta e espiaram. Capei sempre subindo,
- Você vai mesmo pro céu, cabeça?
- Uum, ela fez não podendo mais abrir a boca.
Quando foi ali pela hora antes da madrugada a boiúna Capei chegou no céu. Estava gorducha de tanto frio comido e muito pálida do esforço. Todo o suor dela caía sobre a Terra em gotinhas de orvalho novo. Por causa do fio geado é que Capei é tão fria. Dantes Capei foi a boiúna mas agora é a cabeça da Lua lá no campo vasto do céu. Desde essa feita as caranguejeiras preferem fazer fio de noite."
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Um comentário:
^^ Muito obrigado, estava à procura de um trecho de uma das belíssimas obras de Mário de Andrade. E achei, até mas do que eu desejava.
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