Pela primeira vez ela percebeu que assistiria ao começo de uma "aguada". Sempre quisera participar de um começo tão interessante, o começo da relação homem-chuva.
A mãe chamava: vá terminar a arrumação, pare de enrolar, Menina!
mas a Menina não escutava dessa vez, e da janela olhava o prefácio:
um céu claro como se o sol houvesse se despidido há pouco, onde nuvens muito brancas passeavam sem pressa. Nuvens tão brancas, que parecia haver uma lua cheinha ali por cima delas. Mas não, essa claridade em plenas 19:30 era só prenúncio da Coisa Esperada.
O céu que estava limpo em cima da Baía continuou limpo, e apenas acima de sua cabeça a Menina via nuvens mais escuras dançando com as brancas, aquelas por baixo destas mais pareciam imitar os seus contornos, como se estivessem em performance de nado sincronizado.
Tanto elas nadavam pelos céus quanto a Menina se hipnotizava... mais e mais.
De repente, um clarão. E a aflição subiu pelos pés e levantou seus cabelos: ela estava diante do princípio; o princípio inexplicável do paraíso infernal que pode reinar sobre a Terra sem que os homens consigam escapar ou dizer não.
Outro clarão e ela estava extasiada, esperando mais e mais. Porque nunca havia visto relâmpagos acima de si. Sempre na diagonal, sempre na diagonal, era como via os relâmpagos, raios e trovões.
Olhando ainda pra cima, a esperada temporada micro de uma chuva de verão começou a chegar. viu o primeiro pingo ao seu alcance, como se pelo tanto que ela esperou estava sendo recompensada com um olá dos céus.
E a chuva caiu brilhando, não só pela magia do momento, mas também pelos reflexos das lâmpadas acesas em volta.
"Menina, volte pra faxina" e a menina não hesitou em hesitar para sair da janela, mas também não demorou e voltou a limpar seu quartinho.
Nos olhos da menina só havia marca das gotas, que a deixaram encantada pelo resto da noite... ou até que a morte (não) quebre o encanto de uma espetacular chuva de verão.
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